Este é um microcosmo apartidário embora ideológico, pois «nenhuma escrita é ideologicamente neutra*»

*Roland Bartes

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A II república do Dr. Soares e a I "com muita honra"...



No programa acima exposto, o Dr. Soares, ex-presidente da república, afirmou que actualmente não vivemos na III mas sim na II república (a partir dos 2m 03s). Mais concretamente: «(…) não há III república, a nossa é a II. (…) somos os herdeiros da I com muita honra». Ora, tal afirmação («honra» ?!) só não é terrorista, relativamente ao que foi a I república, por se encontrar desculpada pela anciã idade do professante. Porém, a realidade é que nenhum português enquanto democrata, no seu perfeito raciocínio e normal conhecimento histórico, pode sentir honra pelo que foi praticado entre 1908-1926…antes desonra e vergonha.

Também segundo o Dr. Soares, o “Estado Novo” não pode ser considerado uma república, muito menos de segunda. Foi, na sua ligeira apreciação, tão só uma «ditadura». Neste contexto, houve quem na blogosfera, face a tal “novidade” soarista, viesse falar, e bem (em nosso modesto entendimento), que não sendo o “Estado Novo” república, então, a I república deveria ser, nessa ordem de ideias, designada de “Estado Terrorista”. Indubitavelmente verdadeiro o axioma.

Verdade é que também nós não deixamos de reparar nesse "pormenor" criativo do Dr. Soares, quando proferiu tais declarações. Devemos confessar que a nossa primeira ideia foi de absoluta estupefacção e discordância com tais declarações, uma vez que a Constituição de 1933 considerava uma república e previa a figura do Presidente da mesma. Então como não é (juridicamente) uma república, como diz o Dr. Mário Soares !? Mais nos chocava, quando é factualmente sabido que os republicanos deviam erguer uma estátua ao Prof. Salazar, pois se a república ainda existe a ele se deve, em especial a sua consolidação. Mas, sobretudo, o agora difícil caminho para uma abertura democrática à alteração de regime, mormente monárquico (como no Reino dos Países Baixos), de acordo com a vontade dos portugueses, que a esse propósito nunca foram auscultados.

Porém, face ao exposto, e melhor ponderadas as palavras do Dr. Soares, integradas na sua visão política, no seu percurso ideológico (Comunismo – Socialismo – “Gaveta” [segundo apelidam os media]) sempre intocavelmente republicano, concluiu-se, serenamente, o seguinte: 1.º) "Estado Terrorista"...sim senhor, quanto à I república, tal qual afirmou um ilustre monárquico em blogue. Bem visto e verdadeiro; 2.º) Face a mais repousada leitura, o Dr. Soares tem razão. Senão vejamos: ponham-se na pele do povo/cidadãos que, entre 1910-1926, estavam sempre a temer pela vida, em horror permanente, com toda aquela desordem, tiros e mortes pelas ruas de Portugal... Dando-se o golpe de 28 de Maio, o que significou Salazar para os portugueses que se encontravam naquele "reboliço" pegado ? Significou: a ordem e a segurança, por outras palavras...a “salvação”. Correcto? Ora, sem descurar do tempo a mais e da ausência de liberdade que o Prof. Salazar dramaticamente infligiu sobre Portugal, com os consequentes e irreparáveis danos que ainda hoje se repercutem na nossa democracia, de facto, e se virmos bem, o regresso ao modelo genuíno republicano, de que falava o Dr. Soares, dá-se em 1974. Daí que o senhor não deixe ter razão quando afirmou: «a nossa é a segunda», mas esta dentro do conceito (mais rigoroso) de república de avental…obviamente. Porém, há outra coisa que não é menos verdade…o “reboliço” de 1910-1926 continua doutra maneira, é ver-se as notícias do estado da Nação. A confirmar o afirmado, preste-se atenção à manchete do Caderno de Economia do semanário Expresso de 14-11-2009, cujos títulos transcrevemos para, seriamente, se reflectir:

«Crescimento do PIB é o mais baixo em 90 anos»;
«Nesta década, a economia vai avançar ao ritmo médio anual mais baixo desde o período 1910-1920».

Em suma: Por um lado, razão ao Dr. Soares, são os índices que o demonstram, ou seja I república = II república (2.ª [?] segundo ele); Por outro lado, mais segunda, mais terceira, menos segunda, mais ditadura ou menos ditaduras, o republicanismo não funciona em Portugal. Dr. Soares, num aspecto há absoltuto consenso: sabermos que, em pleno século XX, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a Alemanha Nazi e a China não eram monarquias. Vamos retomar o caminho do progresso que nos foi tirado em 05/10/1910. E viva a democracia...

Post Scriptum: No link infra, encontra-se um vídeo que, apesar da forma crua como é apresentado, por intermédio das suas imagens, textos e música (Rammstein…que taxativamente não apreciamos), relata, em parte, e de forma sequenciada, “a honra” de que, quiçá, falava o Dr. Soares e que devemos à I república.

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