Primeiramente, e por um lado, gostaria de relembrar que esta Câmara é presidida pelo Partido Socialista.
Secundariamente, e por outro lado, gostaria de precisar que não sou votante do partido que sustenta esta Câmara, nem tão pouco do Partido Popular Monárquico.
Não sou terceirense, sou micaelense.
Mas sou português e açoriano.
Assim, sem prejuízo do referido, digo: tenho orgulho do que esta Câmara fez e conforme vem noticiado. Saber reconhecer, livremente, quem fomos e somos realmente, não está ao alcance de qualquer instituição ou pessoa…hoje especialmente. É preciso conhecimento e coragem.
Aos que dizem que esta matéria é mera simbologia, devendo antes praticar-se coisas úteis, a esses, eu respondo dizendo que para se fazer coisas úteis é preciso reflectir primeiro e para reflectir é preciso nos encontrarmos, e para nos encontrarmos precisamos dos símbolos certos para que todo o resto possa mudar para melhor. Ultimamente o que se tem feito é “agir” muito e reflectir pouco.
Se mais investigação, conhecimento e coragem houver noutros municípios dos Açores (e por esse País em geral) como houve em Angra, pode ser o começo do reencontro com a nossa verdadeira e progressista identidade. A nossa mais longínqua e fundacional essência é de azul e branco…até Guerra Junqueiro, um dos mais ferozes críticos da Monarquia Constitucional, sabia e defendeu isso aquando da instauração da bandeira vermelha da república, a mesma que une a I, o Salazarismo e a actual III.
Quem conhece a Terceira e os terceirenses, em especial os angrenses, sabe por que razão foi a Terceira o último reduto português, absolutamente só, a bater-se destemidamente contra o poderosíssimo Filipe de Habsburgo, ou sido decisiva (para o bem ou para o mal) nas Guerras entre Miguel I de Portugal e D. Pedro.
Não foi por mero acaso que, no Brasão de Armas dos Açores, nos encontramos na protecção de dois touros negros contra todos os “filipes” e imbuídos na frase que até hoje nos honra e nos inspira: “Antes morrer livres que em paz sujeitos”. A mesma “(…) é retirada de uma carta escrita a 13 de Fevereiro de 1582 por Ciprião de Figueiredo, então corregedor dos Açores e grande apoiante de D. António I, Prior do Crato, ao rei Filipe II de Castela recusando-lhe a sujeição da ilha Terceira em troca de mercês várias.” (in wikipedia)
Sem percebermos o nosso passado, não temos alicerces para construirmos o futuro mais certo, aliás, é fácil evidenciar e constar isso mesmo hoje com o estado do nosso Estado-Nação. Os agentes decisores da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, como antes deles também na Terceira, deram o mote para grandes mudanças que no Continente não se conseguiram fazer. É talvez por isso que, assim, na minha modesta opinião, esta edilidade percebeu o problema essencial deste País. Ou seja, antes de qualquer reforma da Administração, antes de qualquer solução para a economia, para a educação, etc…é preciso primeiro resolver o nosso problema de identidade e consequentemente de auto-estima colectiva. Ao contrário de um 25 de Abril ou de Novembro, é preciso nunca esquecer que aquilo que aconteceu no dia 5 de Outubro de 1910 foi um rude golpe contra a nossa História quase milenar por via de uma revolução antidemocrática sobre uma sedimentada e constitucional democracia, uma das mais progressistas do mundo na altura. E hoje…o que somos?
Como dizia profeticamente o último herói português, Henrique Mitchell de Paiva Couceiro: «(…) abandonar o azul e branco, Portugal abandonara a sua história e que os povos que abandonam a sua história decaem e morrem (…)» E hoje…como estamos?
Sendo a nossa bandeira, a dos Açores, a mais antiga e congruente, mudem-se e reponham-se as reais cores de Portugal, não é apenas uma questão cromática…todos sabemos que é muito mais do que isso.
Unidos em liberdade, de azul e branco para sempre!
Parabéns ao município de Angra do Heroísmo porque, entre muitos, soube ser um primeiro.
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