Este é um microcosmo apartidário embora ideológico, pois «nenhuma escrita é ideologicamente neutra*»

*Roland Bartes

Intros: 1 2

sábado, 3 de julho de 2021

D. Amélia volta a Portugal

«(...)
Do povo, não sei o que pensar. Desde o momento em que cheguei que ocorre em massa, me aplaude e ovaciona, interrompe a passagem do carro que cobre com pétalas de flores. São muitos mais do que aqueles que saíram à rua para ver a duquesa de Bragança a caminho de São Domingos, são muitos mais do que aqueles que rodeavam Carlos ou Manuel nos dias das suas Aclamações. Beijam-me a mão, querem tocar-me e esperam-me nos lugares onde acreditam que vou passar. No dia em que fui ao Panteão, como não sabiam a hora, esperaram ao sol até me verem chegar. Por três vezes me virei ao subir a escadaria de São Vicente para lhes agradecer os «Vivas». Confesso que quase me desfiz em lágrimas ao voltar ao Dispensário e à Associação de Tuberculosos.
Não posso esconder que me emociona, que tenho o prazer da obra feita, que foi tão pensada e que se manteve a funcionar mesmo quando o país se desfez à sua volta. Quero acreditar que toda a gente que agora sai à rua entende que nos anos em que aqui vivi me empenhei e envolvi para que tivessem uma vida melhor, condições mais dignas. Quero crer, como quis durante todos estes anos, que o mal foi feito por uma minoria de políticos ambiciosos. Mas já não lhes aceno com a alegria com que um dia lhes acenei, aprendi à minha custa que num dia se grita morte ao rei, e no outro se lhe dão vivas.
Comovi-me no Panteão, mas não são os meus filhos mortos que procuro, mas sim os meus filhos vivos. E os meus filhos estão aqui nestas matas, nestas rochas, nestas memórias. Entre as folhas deste caderno ficam as pétalas de uma camélia branca e de uma cor-de-rosa, de pétalas duplas. De regresso a Bellevue, à minha salinha e às minhas fotografias, viverei de memórias…”»
Na fotografia está D. Amélia numa visita a uma escola.


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«Se mandarem os Reis embora, hão-de tornar a chamá-Los» (Alexandre Herculano)

«(…) abandonar o azul e branco, Portugal abandonara a sua história e que os povos que abandonam a sua história decaem e morrem (…)» (O Herói, Henrique Mitchell de Paiva Couceiro)

Entre homens de inteligência, não há nada mais nobre e digno do que um jurar lealdade a outro, enquanto seu representante, se aquele for merecedor disso. (Pedro Paiva Araújo)

Este povo antes de eleger um chefe de Estado, foi eleito como povo por um Rei! (Pedro Paiva Araújo)

«A República foi feita em Lisboa e o resto do País soube pelo telégrafo. O povo não teve nada a ver com isso» (testemunho de Alfredo Marceneiro prestado por João Ferreira Rosa)

«What an intelligent and dynamic young King. I just can not understand the portuguese, they have committed a very serious mistake which may cost them dearly, for years to come.» (Sir Winston Leonard Spencer-Churchill sobre D. Manuel II no seu exílio)

«Everything popular is wrong» (Oscar Wilde)

«Pergunta: Queres ser rei?

Resposta: Eu?! Jamais! Não sou tão pequeno quanto isso! Eu quero ser maior, quero por o Rei!» (NCP)

Um presidente da república disse «(...)"ser o provedor do povo". O povo. Aquela coisa distante. A vantagem de ser monárquico é nestas coisas. Um rei não diz ser o provedor do povo. Nem diz ser do povo. Diz que é o povo.» (Rodrigo Moita de Deus)

«Chegou a hora de acordar consciências e reunir vontades, combatendo a mentira, o desânimo, a resignação e o desinteresse» (S.A.R. Dom Duarte de Bragança)

«Depois de Vós, Nós» (El-Rei D. Manuel II de Portugal, 1909)

«Go on, palavras D'El-Rey!» (El-Rei D. Manuel II de Portugal)