Este é um microcosmo apartidário embora ideológico, pois «nenhuma escrita é ideologicamente neutra*»

*Roland Bartes

Intros: 1 2

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O oitavo painel

Sou radicalmente contra a violação do património público e privado, por actos de vandalismo.

Até sou simpatizante do ‘grafitismo’ interventivo, pacífico e artístico; mas sou contra actos de terrorismo contra o património, normalmente camuflados sob o epíteto de (pseudo) arte. 

Contudo, no caso sob apreço, neste painel de azulejos, especialmente neste (sendo que em todos os dez painéis só dois foram posteriormente alterados, ambos na flagelação), tão típico da escadaria da Senhora da Paz em Vila Franca do Campo, desde de muito criança que o vislumbro com carácter de excepção. Nele são retratados os maus tratos infligidos ao Deus humanizado.

Vejo-o, a título excepcional, repito, como uma realização cultural (o painel) aditada por uma conduta popular de índole igualmente cultural (o acto). Isso porquê? Porque qualquer um, cristão ou não, e que sabe o que se passou naquela Sexta-feira, sabe da grosseira injustiça cometida contra um Insonte. Uma justiça de alguns, de uma elite, que impossibilitava o povo de poder reagir em defesa de um Inocente. Ainda hoje é assim…consumado. 

Todavia, e por maior que seja a razão, houve mãos que incontidas e cirurgicamente quiseram manifestar, no braço do opressor de Cristo, a sua indignação. Não partiram o painel, não danificaram mais nenhum dos oito do deca-painel, não o riscaram, não o esmoucaram aleatoriamente. Fizeram-no com uma comovente (e perdoem-me o termo) precisão. 

Sei que este não será o discurso mais consentâneo e massivo, pois a complexidade do contexto factual é acutilante e até 'plurifurcada', mas obliteraria a verdade se não dissesse que, neste caso específico, compreendo o acto e, mais curioso de tudo, já não imagino aquele painel sem aquela adenda de expressão popular, não passo sequer sem ela ali…quase como se uma reparação agora é que acabasse por traduzir o verdadeiro acto de vandalismo num contexto já sedimentado nas nossas raízes, na nossa Cultura. 

Post Scriptum: «Este templo construído em 1764 remonta a um templo mais primitivo, erguido possivelmente no século XVI, segundo a tradição no local onde um pastor terá encontrado uma imagem da Virgem numa gruta. O atual templo, erguido sobre o anterior, data do século XVIII.» (Fonte - Wiki).

 
Fotos - PPA.
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