A chefia de Estado por um Rei é exercida por intermédio de vectores orientadores plenamente amadurecidos, pois não emanaram de uma só pessoa que reina por uns anos, mas antes de um vasto legado que, com base numa específica preparação de nascença (e aconselhada), é transmitido de uns para outros. Assim é possível dar uma mais adequada estabilidade às instituições, numa lógica que reinar não é um conto de príncipes e princesas, mas antes um fardo que deve ser exemplo conjugado de conhecimento, cultura, rigor, bom senso, apartidarismo e de nunca cair na realidade de contra-poder. Por intermédio dos media, resulta diariamente claro, que as instituições em Portugal estão a necessitar, a cada dia que passa, de estabilidade (nem que cronológica), a mesma estabilidade que suporta países como os reinos da Dinamarca, da Suécia, da Holanda, da Espanha, da Inglaterra, do império do Japão, etc, etc. Os ora britânicos, já tiveram uma república. A este propósito, a única república que tiveram, a dos Cromwell, durou cerca de 7 anos. Em Portugal a república já leva mais tempo…cerca de 99 anos. Os portugueses precisam de alguém que os represente temporalmente de forma estrutural e não conjuntural.
Na época dos Reis, era fácil constatar tão genuína e massiva predisposição dos portugueses irem com alegria às ruas felicitar os seus representantes ou a demonstrarem o pesar pelos seus falecimentos. A título de exemplo, é absolutamente indescritível a motivação que levou multidões ao enterro da Rainha D. Amélia (de origem francesa), soberana esta que já estava exilada há décadas, mas nem por isso demoveu a memória carinhosa e retribuída do povo português para com ela. Motivo: empatia intrínseca pela Família Real. O pragmatismo e o profissionalismo é fundamental a Portugal, contudo falta hoje um elemento subjectivo igualmente ponderoso: paixão. Paixão entre os portugueses e o seu Estado, o mesmo elo que existiu, durante quase 800 anos, antes de 1910. Convictamente entende-se que o fenómeno da absoluta descrença do povo português para com os seus líderes, que se comprova, infelizmente, pela cada vez maior abstinência da ida às urnas eleitorais, pode ser reabilitado, nos nossos dias, por intermédio da restauração da monarquia e retorno da Família Real.
Admitindo um novo contexto, capaz de gerar paixão entre os portugueses e as suas instituições, evoquemos um elemento societário que, em Portugal, se tem revelado positivo, concretamente o fenómeno do futebol, em particular da Selecção Nacional. Hoje, o respeito inequívoco dos portugueses dirige-se para fenómenos desta índole, reservando-se àqueles que têm conseguido ter frutos, os mesmos que, curiosamente, se têm mantido mais tempo, sublinhe-se, nos lugares de responsabilidade, fugindo às modas da "mudança". Regressando, mais em concreto e novamente, ao contexto desportivo, de salientar que o investimento na formação futebolística trouxe a Portugal, aquilo que alguns anos atrás nos parecia impossível: sucesso, respeito, divulgação e representação. Seleccionadores, treinadores, futebolistas. Também já fomos capazes noutros campos mais interventivos à sociedade, outrora, aquando dos Descobrimentos (Economia, Política, etc). Hoje podemo-lo ser novamente em diversos domínios. É preciso restaurar e acreditar. É preciso incutir de novo nos portugueses, na exacta medida, o espírito que já tiveram do V Império.
Assim, que nunca se esqueça: com um Rei novamente em Portugal, não haveria um representante de Estado ex-líder de um qualquer partido, não haveria um representante de esquerda ou de direita.
Por fim, atente-se às declarações, prestadas à RTP, por pessoas que se deslocaram, propositadamente, ao aeroporto do Funchal para esperar o Rei, não o de Portugal, mas o da Espanha. Foram lá imbuídos de alegria e curiosidade, como se tivessem ido esperar um ente querido que chega de longe. A questão deve impor-se: será que para o seu presidente, o povo (que somos todos nós), dedicou tanta atenção naquele evento, naquele dia e àquela hora da sua chegada ?