Excertos da obra «Um Herói Português – Henrique Paiva Couceiro (1861-1944) – Biografia»
Por Valente, Vasco Pulido; 1.ª edição; editora Alêtheia; 2006
- Deixado o aviso: «(…)”abandonar o azul e branco, Portugal abandonara a sua história e que os povos que abandonam a sua história decaem e morrem” (…)». (páginas 133 e 134)
- Coragem extrema: «Em 31 de Outubro de 1937 (…) escreveu a Salazar, invocando o artigo 8, número 18 da Constituição de 1933, como milhares de portugueses durante os quarenta anos seguintes. Num tom insolente e quase brutal, Couceiro prevenia o Presidente do Conselho da existência de um movimento separatista em Angola, com cumplicidades no estrangeiro. (…). Mas, prevenia o Paladino, embora Salazar “mandasse de ciência certa e poder absoluto” num país que “parecia conquistado”, as “terras do Ultramar” não lhe pertenciam, tanto mais que no seu espírito “professoral” não “escapara” um “cantinho” para “o génio” e “os sentimentos” daqueles que se haviam sacrificado para “legar” à Pátria o grande “património” (…). A “integridade nacional” estava em perigo e o Presidente de Conselho não cumpria os seus “deveres de Estado”. Pelo contrário, substituíra o (…) “legítimo” Portugal do “senão, não”, por um “Portugal artificial, espécie de títere, de que o governo puxava os cordelinhos”, em que “velava a Polícia e o lápis da Censura” e que “jazia” agora em “catalepsia colectiva”. Ninguém se atrevia a falar. Falava ele Couceiro, exigindo uma imediata inversão da política colonial. E receberia com “muita honra” qualquer “incómodo” que lhe trouxesse o “cumprimento do dever”.
Perante isto, Salazar não hesitou: prendeu Couceiro (…).» (página 147)
- O fim terreno recapitula um homem: ««Em Novembro de 1939, com o fim da guerra de Espanha e o começo da guerra mundial, Salazar resolveu acabar com o desterro do Paladino. Em Janeiro de 1940, Couceiro voltou para Portugal, mais precisamente para uma casa em Oeiras, donde praticamente nunca saía. Um amigo, que o viu por essa altura, achou que “ele já não era deste mundo”. Quando a mulher, D. Júlia de Noronha, morreu em 1941, passou a fazer uma vida quase inteiramente solitária. Voltou-se, por assim dizer, às origens. Dormia num divã, “vestido e calçado”, como em véspera de batalha. Acordava às seis da manhã, “fazia o seu exercício diário de esgrima, tomava banho de chuveiro e ia rezar as orações do princípio do dia”. “Engraxava” ele próprio “as suas botas” e “os seus fatos”. Não “falava na comida”, nem para dizer bem, nem para dizer mal. Para ocupar o tempo, tratava da correspondência, lia e, excepcionalmente, recebia um amigo ou outro. Às dez da noite, tornava a rezar, e uma hora depois, pontualmente, estava a dormir.
Em 1944, o médico insistiu que ele se mudasse para Lisboa e Couceiro escolheu um 5.º andar da Avenida Praia da Vitória. Um dos “fiéis”, que o viu logo no primeiro dia, ficou impressionado: vivia num quarto “nu”, sem livros, sem objectos pessoais, quase sem nada. Mas Couceiro garantiu que tinha tudo o que precisava: um crucifixo, a bandeira azul e branca da Monarquia e três espadas, cada uma com uma etiqueta: Magul, Galiza, esgrima.» (páginas 151 e 152)
Todas as honrarias a um dos grandes bravos e portugueses de sempre, sendo a maior de todas elas a guarda do bom exemplo na memória colectiva.
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