Presentemente, e infelizmente, esta matéria ainda continua a ser muito dilacerante no meio monárquico.
Porém, e ao contrário de qualquer lógica de composição textual, começarei esta exposição e esclarecimento de posição pelo fim, ou seja, pela pessoa de SAR o Sr. D. Duarte Pio, Duque de Bragança e atual Chefe da Sereníssima Casa Real Portuguesa. Este assunto - Miguelistas vs Liberais - é hoje um não assunto, porquanto o Sr. D. Duarte Pio, literalmente, personifica, unifica e representa os dois ramos outrora desavindos, uma vez ser bisneto de El-Rei D. Miguel I por parte paterna e descendente, por parte materna, do ramo liberal de D. Pedro, enquanto filho de Maria Francisca de Orléans e Bragança, bisneta de D. Pedro II, último Imperador do Brasil (filho de D. Pedro de Portugal), e neta da última princesa imperial do Brasil, D. Isabel de Bragança e do príncipe imperial consorte, Gastão de Orléans, Conde d'Eu. Acresce referir que o Sr. D. Duarte Pio é ainda afilhado de batismo de SMF a Rainha D. Amélia e de SS o Papa Pio XII.
D. Miguel I, pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc, reinou Portugal entre 1828 e 1834, e na minha perspetiva jurídica é absolutamente transparente e claro que era ele, de facto e de direito, aquele que deveria ser Rei de Portugal e, sobretudo, os seus descendentes. De ideais católicos e tradicionalistas, os quais defendia com frontalidade, tornava-o pouco apreciado entre a burguesia, mais aberta à influência do ideário liberal, mas gozava de grande popularidade entre o povo, povo que o aclamaria vezes diversas por espontânea iniciativa. Curiosamente, a 25 de abril as Cortes de Lisboa proclamavam D. Miguel Rei absoluto e este convoca a reunião dos antigos três estados do Reino por Decreto de 6 de maio, os quais, em 23 de junho, o confirmam como Rei legítimo de Portugal.
Precisamente, por esse elo muito forte, entre o povo português e D. Miguel, cujo significado nominativo é "Quem é com Deus", que além de o cognome atribuído pelos seus seguidores – “O Tradicionalista”, sempre defendi que deveria ser ele o verdadeiro cognominado “O Popular” e não, tempos depois, o seu sobrinho neto D. Luís I.
Muita propaganda liberal conseguiu, curiosamente até hoje, transmitir a ideia, sobre D. Miguel, que este seria um Rei que traria pouco desenvolvimento a Portugal, por ser conservador e tradicionalista em demasia. Discordo. El-Rei D. Miguel I, contava também com muitos seguidores que, apesar de serem conservadores, eram abertos à cultura e às suas novas tendências, como por exemplo, e sem descurar do poderoso Ducado de Cadaval, Manuel Freitas do Amaral, um homem muito culto, visionário, moderno e refinado, responsável por um legado familiar multissecular que havia estado nos momentos cruciais da defesa do Reino de Portugal.
Além disso, D. Miguel I de Portugal tinha na Prússia (de Frederico Guilherme III) uma aliada, embora não muito assumida à data, podendo revelar-se uma pareceria de futuro que acabou por não se concretizar. A única certeza que temos é que o caminho seguido por Portugal, após o seu exílio, não acabou bem…acabou em república e perdemos, em especial, o prestígio que outrora tivemos, bastando verificar nos dias de hoje a prova. D. Miguel I era igualmente próximo ao Império Austro-húngaro, este sim o seu mais assumido aliado. Ou seja, nestes (novos e citados) aliados, Portugal teria aqueles a seu lado que, à data, eram os mais avançados cultural, tecnológica e filosoficamente. Nomes como Kant, Hegel, Bach, etc, provinham daquelas nações enunciadas…
Não querendo ser injusto com alguns liberais, mas contrariamente ao ramo pedrista, julgo que aqueles que eram leais a D. Miguel I, presentemente representados pelos seus descendentes, ainda hoje lhe continuam leais.
Por outro lado, existem monárquicos liberais…obviamente. Mas muita da ex-mancha liberal está, presentemente, convertida à república. Quero frisar, pois, salvo outra opinião, que a lealdade não foi tão sólida de um lado, como foi do outro. Isso parece-me inequívoco e importante referir.
É neste contexto, o da lealdade, que julgo oportuno referir o nome do Capitão Manuel Francisco de Resendes, que no Faial da Terra, tinha sido Tenente “(...) de milícias e comandante do forte daquele lugar (...)”, “(...) era a figura principal e o mais expressivo símbolo da fidelidade ao Rei D. Miguel” e de quem descendo. Maiores detalhes sobre as pessoas de Manuel Francisco de Resendes, José de Medeiros Resendes e, ainda, o Pe. António Francisco Resendes, reservo-me a remeter ao texto infra, extraído de livro que consta na nossa família, apenas salientando este trecho: “Foi ainda naqueles tumultuosos primeiros dias de Agosto de 1831 que se registou no Faial da Terra um lamentável incidente, provocado por soldados liberais, que maltrataram o antigo comandante da praça forte, o qual, sem haver praticado outro crime que não fosse o de afirmar o seu respeito por D. Miguel (...)”.
Chegados a este ponto, e em 1834, a verdade é que D. Miguel I, sob efetiva ameaça de uma Quádrupla Aliança, composta por quatro fortes Estados europeus (Reino Unido, França, Espanha e Portugal por via dos Liberais portugueses), em cujo avanço para uma continuada guerra traria a indesejada morte de muitos portugueses, desistiu daquilo que lhe era legítimo e foi forçado a abdicar em favor de sua sobrinha D. Maria II, através da Convenção de Évora Monte, assinada a 26 de maio do aludido ano.
Sem prejuízo do até agora escrito, contudo, e sendo acima de tudo monárquico, um pouco à semelhança do nosso herói Henrique Paiva Couceiro que colocava a Monarquia antes do próprio Rei, a verdade é que se iniciou uma nova Casa com D. Maria II e seu marido D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha.
Ora, da mesma forma que procurei supra ser o mais honesto e sem rodeios na minha posição acerca de D. Miguel I, de igual modo, e independentemente das variadíssimas e respeitáveis interpretações que possam existir sobre a transmissão do poder de “O Tradicionalista” para D. Maria II, e seus descendentes, em igual verdade devo firmar que os restantes Reis que tivemos até à implantação anti democrática, terrorista e pela força das armas da I república, em que tivemos uma mudança de paradigma, do monárquico para o republicano, reconheço a todos esses monarcas igual respeitabilidade e reconhecimento pelo que fizeram por Portugal e pelas Regiões Autónomas dos Açores e Madeira, em particular destacando El-Rei D. Carlos I e, sobretudo, como o meu potencial Rei predileto, D. Pedro V, “O Muito Amado”, homem que todos os dias me serve de referência para a minha vida quotidiana, de quem guardo na minha sala uma fotografia de porte considerável para nunca me esquecer do seu exemplo, em especial do seu humanismo, um homem ímpar que amava profundamente os portugueses. Julgo, inclusive, que, paradoxalmente, sendo de ramos diferentes, e sendo homens bastante diferentes nas suas formas de agir e pensar, D. Pedro V e D. Miguel I, têm ambos uma ambiência santificante em torno deles.
Culminando, afigura-se-me, presentemente, pacífico e ultrapassada toda essa questão que moveu liberais contra legitimistas, mesmo porque a própria pessoa do Sr. D. Duarte Pio de Bragança, herdeiro legitimíssimo de D. Afonso Henriques, não nasce por mero acaso. Por um lado creio, inequivocamente, na existência do ‘Pacto de Dover’, entre SMF El-Rei D. Manuel II (Rei de iure e facto à data) e D. Duarte II, pai do atual Duque de Bragança; Por outro lado a forte convicção da intervenção de uma mulher fulcral, SMF a Rainha D. Amélia
que, muito certamente, preferiu ver um familiar seu a suceder ao filho (nunca descurando que o ramo liberal foi mui digno, por ato de El-Rei D. Luís I, em colocar a bandeira do Reino de Portugal a meia haste aquando do falecimento do seu tio avô, D. Miguel I, no exílio), do que a pretendente Maria Pia de Saxe-Coburgo-Gotha, alegada filha ilegítima de El-Rei D. Carlos.
Em suma, e à parte de posições que possamos ter em relação a este assunto, e como diz o nosso nobre povo “águas passadas não movem moinhos”, há que nos juntarmos todos e procurando analisar o ‘modus operandi’ das atuais monarquias vigentes, a essência das mesmas e, sobretudo, juntando o nosso glorioso passado de feitos enquanto fomos Reino, desenvolver meios de restaurar a Monarquia pela democracia, como modelo aperfeiçoado, contraposto a todos os defeitos que a república "resplandecentemente" nos revela todos os dias, e formando uma nova e moderna Monarquia portuguesa sem estarmos a copiar os modelos monárquicos A, B ou C, procurando, designadamente, mais e melhor Justiça, melhor Ambiente, melhor Saúde, melhor Educação e, sobretudo, maior União entre os portugueses.