"O Liberalismo é uma utopia".
Ouvi esta marcante frase, na passada semana, por parte de um leal amigo e empresário de Vila Franca, dos verdadeiros que podem ostentar esse título, daqueles que nunca se vergaram ao maior poder político, o governamental, daqueles que caiem violentamente e reerguem-se, um líder verdadeiro (dos poucos que conheci), um comandante de homens, um defensor feroz dos seus colaboradores, um inconformado contra as regras pré estabelecidas, dotado de uma precisa inteligência analítica mas, acima de tudo, a qualidade que mais lhe admiro, um sentido de humor único e brilhante.
Tal como o Comunismo é uma utopia, também, de facto, o Liberalismo é outra. O primeiro, sobretudo na URSS e na China de Mao, não se coibiu de matar seres humanos aos milhares para impor o seu idealismo. O segundo faz algo ainda pior, não gera sequer mártires, ceifa irredutivelmente as suas almas, a dignidade e a verticalidade deles.
Salazar (mas também, sem descurar, por outra via, o específico Integralismo Lusitano de António Sardinha), percebendo, astutamente, o enraizamento desses dois descomunais perigos, combateu pela força o primeiro e suspendeu, por decreto, o segundo. Criou uma Constituição Corporativista (... para informação dos menos sabedores expressamente inversa ao fascismo que propôs um Rolão Preto... naturalmente com aquele salpico esquerdista que só hoje começa a ser possível reconhecer aos fascistas... não tivesse ele se tornado um opositor a Salazar na Oposição Democrática e pela fundação do Nacional-Sindicalismo), a qual através da cooperação económica das instituições podia estabilizar o Capitalismo, deixar as empresas prosperarem e produzirem, fossem as grandes, as médias ou as pequenas. Recordo os Champalimaud, os Mello, a CUF ou os pequenos comerciantes que proliferavam pelos centros das cidades e pelas aldeias de Portugal com os seus diversos produtos. A indústria funcionava em Portugal como nunca. Tivemos a segunda maior fábrica de tecelagem da Península Ibérica, a Baiona, construíamos barcos, tínhamos uma robusta indústria química, etc. .. talvez por isso crescíamos a 7%...
Acresce a isto que o Estado Corporativista do Prof. António de Oliveira Salazar, tinha uma máquina administrativa sólida, assente na transparência e, acima de tudo, na seriedade, sabendo que política era um aspeto e sociedade civil e económica outro.
Tal como Salazar, sempre, e antes dele, houve Administração, desde Afonso Henriques e, em especial, na gestão complexa do Império Ultramarino. Depois o Estado, antes a Coroa. No mundo, em geral, há Administração e o progresso de um País, não haja qualquer ilusão, depende sempre dela, mas sobretudo da sua eficiência, qualidade, celeridade, regulação e transparência (ou seriedade se preferirem). Um país 100% privado ou próximo disso é niilismo e uma blague.
Ora, a utopia do Liberalismo evidencia-se precisamente por isso, porquanto iludem-se os seus defensores e aqueles que são enganados por aqueles, pois a crua realidade é que quando chegam ao poder não têm outro caminho, como revela a História desde do século XIX, que não se acomodarem, refastelarem e terem de acatar o que lhes diz a Administração. Há poucos dogmas sociais, mas este é incontornável.
Por fim, e a título de exemplo, o CDS-PP e o PSD em algumas das suas franjas ultra liberais, quando foram cheios de força "liberal" para o poder, em 2002 e em 2011, rapidamente renderam-se, e ainda bem que assim foi, ao poder ainda maior da Administração.
Não defendo um Estado absoluto, mas uma negação de um Estado é ainda pior. Um Estado não se deve intrometer em tudo, deve dar liberdade, entrar em áreas muito específicas, deve ser mediador, regulador e ser transparente. Não é preciso sacrificar almas para gerar riqueza, não ao Liberalismo... sempre!
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