Este é um microcosmo apartidário embora ideológico, pois «nenhuma escrita é ideologicamente neutra*»

*Roland Bartes

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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Quase zelotipia


Para poder definir o que sinto em relação àquilo que fomos em Monarquia, sobretudo àqueles portugueses que foram contemporâneos dos nossos Reis, mentiria se não dissesse que chega a ser quase zelotipia. Sim, quase zelotipia por um Portugal que fomos.

Quando vejo uma imagem, sobretudo fotográfica, de alguns dos nosso Reis, é inevitável o pensamento de que aquele passado não pode ser o nosso presente. Ou seja, o nível que atingimos, claramente, não é aquele que hoje temos. Ver um D. Carlos ou um D. Manuel II e fazer o paralelismo com os “nossos” Presidentes, sejam eles quais forem, fica de todo claro o desequilibro da imagem representativa e, inerentemente, do prestigio projectivo dentro e fora de portas.

Quando se considera a nossa História até 1910, até parece que se tratava de um outro País… de uma Nação estrangeira. Sim, como se não fossemos nós. Daqueles países estrangeiros mais evoluídos, produtivos e, sobretudo, alegres. Naquela altura com algumas dificuldades, é certo, mas bastante melhores em patamar civilizacional e produtivo do que aquilo que somos hoje e que, não obstante o dificílimo encadeamento histórico - Invasões francesas – Brasil – Mapa Cor-de-Rosa – Republicanismo, já estavam focados em as ultrapassar. Outrora éramos, pois, como aqueles países que que nos levam ao seguinte pensamento: “que bom que seria viver assim”. Pois…talvez daí a (quase) zelotipia… Pelo que ressalta naturalmente a analogia: Que bom que seria viver como os noruegueses; que bom que seria viver como os canadianos; que bom que seria viver como os ingleses, etc. Contudo…que triste, infelizmente, que é viver hoje em Portugal.

Com o vermelho e o verde da república, o regime conseguiu o seu objectivo primordial: romper com o passado. Atingiu-o de facto. Todavia, não fez esquecer, pelo menos em alguns, esse mesmo passado que podia ter conduzido a um outro presente e a um outro futuro, potencialmente melhores que aqueles que vivemos e vislumbramos. Hoje somos outros, descaracterizados, amorfos, tristes e cada vez mais sem rumo.

Focando-nos, por fim, na figura da El-Rei D. Manuel II, um Rei jovem que foi abalroado pelo terrorismo revolucionário e jacobino, que desembocou no formato da actual III república, posso dizer que, por um lado, custa-me seriamente a crer como podemos ter chegado tão alto e ter posto tudo a perder em tão pouco tempo, aliás, como se comprova hoje à nossa volta. Ver D. Manuel à luz do Presente, é quase como ver um Rei de um outro país. Por outro lado, entristece-me não ter podido assistir, presentemente, como português, com os meus filhos e netos, à prevalência e continuidade daquilo que El-Rei representava: uma empresa de prestígio e produtiva por todos nós chamada de Família Real Portuguesa e, cuja designação da firma, era ela Portugal. Do posicionamento da sua sempre humilde atitude de ofertar ajuda (mesmo no exílio auxiliava todos os que podia), mas excelso na postura e na imagem, vislumbro El-Rei com honra e orgulho daquilo que fomos e que espero sempre que ainda venhamos a ser. A nossa última esperança é que a Família Real Portuguesa ainda existe!


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«Se mandarem os Reis embora, hão-de tornar a chamá-Los» (Alexandre Herculano)

«(…) abandonar o azul e branco, Portugal abandonara a sua história e que os povos que abandonam a sua história decaem e morrem (…)» (O Herói, Henrique Mitchell de Paiva Couceiro)

Entre homens de inteligência, não há nada mais nobre e digno do que um jurar lealdade a outro, enquanto seu representante, se aquele for merecedor disso. (Pedro Paiva Araújo)

Este povo antes de eleger um chefe de Estado, foi eleito como povo por um Rei! (Pedro Paiva Araújo)

«A República foi feita em Lisboa e o resto do País soube pelo telégrafo. O povo não teve nada a ver com isso» (testemunho de Alfredo Marceneiro prestado por João Ferreira Rosa)

«What an intelligent and dynamic young King. I just can not understand the portuguese, they have committed a very serious mistake which may cost them dearly, for years to come.» (Sir Winston Leonard Spencer-Churchill sobre D. Manuel II no seu exílio)

«Everything popular is wrong» (Oscar Wilde)

«Pergunta: Queres ser rei?

Resposta: Eu?! Jamais! Não sou tão pequeno quanto isso! Eu quero ser maior, quero por o Rei!» (NCP)

Um presidente da república disse «(...)"ser o provedor do povo". O povo. Aquela coisa distante. A vantagem de ser monárquico é nestas coisas. Um rei não diz ser o provedor do povo. Nem diz ser do povo. Diz que é o povo.» (Rodrigo Moita de Deus)

«Chegou a hora de acordar consciências e reunir vontades, combatendo a mentira, o desânimo, a resignação e o desinteresse» (S.A.R. Dom Duarte de Bragança)

«Depois de Vós, Nós» (El-Rei D. Manuel II de Portugal, 1909)

«Go on, palavras D'El-Rey!» (El-Rei D. Manuel II de Portugal)