O golpe, e referir-me-ei única e especificamente ao golpe, de 25 de abril de 1974, foi essencialmente potenciado por revolucionários. Com determinada legitimidade derrubaram um grupo bafiento de senhores que, já muito distantes da capacidade daquele que desenhara e controlara o Estado Novo, levavam Portugal para uma encruzilhada e, ainda por cima, eram objetivos responsáveis pelo não florescimento pleno da Primavera Marcelista e, depois, do Marcelismo que supostamente poderia, ou não, nos conduzir à democracia.
Com mais ou menos oscilações de tendências políticas durante o PREC, e talvez por mero antagonismo com o anterior regime, o cenário que temos hoje acabou por desembocar num sistema tendencialmente de esquerda. Hoje, para o bem de uns e para o mal de outros, temos uma cultura de regime de esquerda e, em prova disso, se formos rigorosos, em especial com os estatutos partidários, nem um partido robustamente de direita temos no Parlamento. Inversamente, de esquerda, temos quase todos…sem descurar dos extremistas. Falta pois equilíbrio, eventualmente derivado de quatro décadas desta Constituição.
Porém, o que importa aqui ressalvar é que aquele dia é até hoje consagrado como o “dia da liberdade”. Foi assim instituído. Mas liberdade para quem? Resposta: para aqueles que, no seu direito, se reveem no golpe. Contudo, e sem questionar aqui as motivações do golpe, aquele dia causa inequivocamente uma rutura, a rutura entre a esquerda e a direita, daqueles que se revem nos ideais de abril e daqueles que não se revem naqueles ideais. Ou seja, o suposto e atual dia da liberdade é um dia de rutura e não de união.
Em contraste, os Estados Unidos da América celebram, por exemplo, o dia da Independência como um dia de todos, um dia em que os itens alusivos à data são orgulhosamente adquiridos, sem exceção e sem questionar. O 4 de julho celebra o dia em que os norte-americanos se declararam independentes do jugo da Grã-Bretanha.
Por cá, se muitos compram cravos vermelhos como símbolo de referência, muitos também não vem isso com bons olhos, porquanto não se reveem nos respetivos ideais subjacentes. Numa democracia mais avançada isso é claro e seria respeitado. Mas infelizmente não é isso que acontece por cá, muitos ainda hoje são apelidados de fascistas por não serem de esquerda.
Nunca nos esqueçamos que, se à luz da História, o 25 de abril significou liberdade, também, à data, o 28 de maio significou o mesmo.
Em suma, e por mais que queiramos ser coerentes, o 25 de abril não é apropriadamente o dia da liberdade, porquanto estamos a ver a data de um prisma estrito e curto, muito afastado da extensão dos vários séculos que Portugal regista. Mais seria o 25 de novembro, que teve como grande arauto Jaime Neves, aquele que sedimentou o trilho para a III república e que o regime não recorda. Contudo, quer um, quer outro, são maus referenciais para o fluxo histórico de um País. Se mantivermos condutas como estas, seremos sempre uma Nação mal resolvida. Existirá muito desequilíbrio e o desequilíbrio é necessariamente mau. Enquanto, historicamente, continuarmos a dar prevalência a contornos sectários e sobretudo conjunturais, em desfavor de contornos estruturais, enquanto escolhermos datas que nos põem uns contra os outros em detrimento de datas que nos unem, os portugueses caminharão para um definhamento, definhamento esse que já se regista em diversos sectores, como o civilizacional, cultural e económico.
Pelo que volto a reafirmar a necessidade de se reverem os feriados, instituindo-se, conforme defendo há muito, o dia 1 de dezembro como dia da liberdade, pois foi nesse dia que, unidos, conseguimos a liberdade sobre um opressor estrangeiro realmente comum a todos.
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