Este é um microcosmo apartidário embora ideológico, pois «nenhuma escrita é ideologicamente neutra*»

*Roland Bartes

Intros: 1 2

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O novo Benfica

Nunca pensei que isto fosse possível, mas nos últimos tempos o Sport Lisboa e Benfica (SLB) tem vindo a afirmar-se como um Clube de elites. Apesar dos 6 milhões, o Benfica não tem respeitado a maior fatia do seu bolo e tem-se inclinado, isso sim, perante determinadas elites. Pelo cenário que assistimos, essas elites não devem ser diferentes daquelas perante as quais o País tomba: as financeiras.
O seu elitismo tem uma expressão e uma materialização: a Benfica TV. Antevejo que essa solução não funcione para o Clube. O Benfica (mesmo somando a diáspora), não tem dimensão para um produto destes. Este produto serve, tão-somente, para receber umas coroas e para pagar ordenados de jogadores e pouco mais. As verbas devem ser simpáticas, não contradigo isso, mas nada que se assemelhe àquilo que acontece, por exemplo, com o Manchester United. As perdas, essas sim, serão devastadoras no futuro. O património humano é insubstituível num Clube, disso podemos estar todos certos.
Com a Benfica TV, o Benfica de hoje está hipotecando o futuro de amanhã por uns tostões. Mais, está mesmo invertendo, por completo, a sua lógica e o seu maior trunfo de sempre: a popularidade. Ou seja, como é comummente sabido, o Benfica deve muito ao Regime anterior e alguma imprensa que conseguiram, arrecadar-lhe, com anos a fio de propaganda, uma estrutura icónica e mítica perante a consciência de muitos portugueses. Mas essa evidência, além de real, era assente na vontade popular…no povo para sermos objectivos.
Ora, no domingo passado, eu não vi o Benfica – Porto, pois não tenho, nem nunca terei (paga), a Benfica TV. Como eu, afiguram-se todos os sportinguistas, portistas e por aí adiante. Mas o pior é que a verdadeira transversalidade do Benfica, que assenta muito nas classes mais desfavorecidas e pobres, está a ser brutalmente afectada e atingida no seu âmago. Aqueles estratos sociais não podem pagar bilhetes para a Luz, mas pagar a Benfica TV muito menos.
Ou seja, por mais que o Estádio da Luz consiga levar em pessoas (60.000 julgo), esse número é sempre inexpressivo perante os tais milhões iniciados também pelo dígito 6. Desse enorme bolo de milhões, efectivamente, só uma elite, especialmente nos dias de crise que hoje correm, terá acesso e essa traduz-se nos benfiquistas mais abastados.
Cabe-me, enquanto sportinguista, considerar a realidade de um prisma externo e meramente analítico, mas mentiria se dissesse que não me agrada a opção encarnada, pois, a longo prazo, os resultados poderão estar à vista e esses não serão os melhores para o SLB. Não vendo jogos, mas sim os de outros, e se o figurino ficar, a mística vermelha diluir-se-á e naturalmente serão procuradas (outras) soluções pelas juventudes vindoiras.
Recordo, para terminar, o que aconteceu com a Formula 1 em Portugal, cujo fenómeno, até aos 90s, quando os campeonatos eram transmitidos pela RTP, traduzia uma notável popularidade, pois todos assistiam, em suas casas, durante o início da tarde. Contudo, no presente, e passadas poucas décadas, é uma modalidade efectivamente moribunda em Portugal. 
“Penso eu de que”.
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