Este é um microcosmo apartidário embora ideológico, pois «nenhuma escrita é ideologicamente neutra*»

*Roland Bartes

Intros: 1 2

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Decorrente de um think tank facebookiano...(II)

1.º Comentário

PMO,
Entendo o seu comentário. Até concordo conjunturalmente com ele, mas discordo estruturalmente.

Há que apresentar o cenário de outro prisma:

1.º) De facto não foi um problema de regime, mas sim de Governo. Este prendia-se com o envelhecimento do rotativismo (quiçá o mesmo que temos hoje?!).


2.º) A I república não foi uma “continuação” da Monarquia Constitucional como afirma. Antes pelo contrário, e conforme sabemos, foi a implementação de medidas sistémicas radicalmente diferentes e que trilharam, até hoje, em meros 100 anos, a herança do nosso Portugal actual. Em 767 Portugal enfrentou diversas crises, mas soube ultrapassá-las por si próprio. Aquilo a que chama a “desgraça” foram problemas que se amontoaram, para a Monarquia Constitucional, por circunstâncias históricas (perda do Brasil [uma diminuição de 75% do valor do comércio externo português e principal sustento do Estado], investimento público necessário para a modernização de Portugal*, Mapa cor-de-rosa, ataques armados maçónico-republicanos, improdutividade do rotativismo) e que D. Carlos, sublinho D. Carlos, teve de solver. Ao contrário dos PR’s de hoje (e de ontem), ele tomou uma posição pró-activa e cujas vantagens poucos falam e o preço que pagou todos nós sabemos qual foi! Deva-se dizer também, em abono da verdade que, com as devidas ressalvas temporais, a Carta Constitucional era bastante melhor que as Constituições.


3.º) Portugal, apesar da situação económica difícil naquela altura (que não era tecnicamente uma “bancarrota”), consegui, através do regime, ou seja pelo Rei, negociar com Inglaterra (com Eduardo VII – primo de El-Rey) através de construção naval e por outras vias produtivas nacionais o abatimento da nossa dívida. E conseguiu! Relembro que, apesar da perda do Brasil, nessa altura ainda produzíamos (ex. muito dos materiais usados na construção da nova via férrea portuguesa eram nacionais).

4.º) Em 1910 o número de funcionários era igual ao de 1890. Param as obras públicas e o peso da dívida no PIB caiu de 70 para 60%. Curiosamente, e à boa moda portuguesa, o descontentamento subiu pois a chamada “rega da libra” (* conceptualizada por Fontes Pereira de Melo) tinha terminado…

5.º) O aparecimento do Mapa Cor-de-Rosa, foi mais um assunto para D. Carlos resolver. E resolveu, evitando-nos uma guerra desnecessária, ruinosa e impossível. O que disseram os republicanos (e até alguns monárquicos fanáticos)? R: “Frente aos canhões (Bretões) marchar, marchar…”. Mais tarde também marcharam, marcharam nas trincheiras do primeiro grande conflito mundial, deixando a vida de compatriotas nossos lá, apenas para o novo regime imposto à força bajular as potências da altura (Inglaterra e França). O concerto económico que D. Carlos tinha alcançado, foi absolutamente despedaçado em menos de 20 anos! A mudança de regime acentuou, portanto, drasticamente o declínio português, face às medidas nacionalistas e desenfreadas da I república (in casu a ida para a I Grande Guerra).

6.º) O único e último problema que faltou resolver, por D. Carlos, era o político (interno). Nomeou João Franco para que se solucionasse a incapacidade do rotativismo…mas não foi possível. Fora da Carta Constitucional e da democracia, o Partido Republicano de 7%, por intermédio da carbonária, o seu braço armado, interrompeu este último desafio do Rei e impôs um regime que perdura até hoje…sem que eu possa ter dito se o quero.

A título de conclusão, pode ter a certeza que os Reis constitucionais foram, paradoxalmente, os chefes de Estado mais bem preparados que Portugal teve. Herdaram problemas atipicamente avolumados e complexos. Sumariando: Não herdaram o ouro do Brasil; Apostaram no desenvolvimento do País, investindo em obras públicas para o modernizar (a dita “rega da libra” de Fontes Pereira de Melo); D. Carlos percebeu e virou-se imediatamente para África, trilhando, com envio de seu filho àquele território, o herdeiro ao Trono, uma promoção imediata de sensibilização para com um novo cenário de desenvolvimento do Império, etc, etc.
Mas para tudo isto e mais, infelizmente, o Partido Republicano não deu tempo. Interessava-lhe que não houvesse tempo! Imposta a república, nunca mais houve um tratamento coerentemente próspero quer de África, quer de Portugal.

Em suma: O que hoje temos é um problema de regime e temos de mudá-lo, independentemente das opções: republicana ou monárquica. Para mim a via é claramente régia!
Foi o regime (monárquico) que sustentou o País/Império por mais tempo. Mas hoje a crise é ainda mais grave e não estamos unidos. Desde logo o problema vem de cima, pois o nosso representante vota e vota em algum partido. É a partidarização do regime. É nisto que a Monarquia traria, de novo, vantagens. Um novo paradigma colectivo, um elo de união. Acredito em factos e o que eles demonstram são as Monarquias que ocupam os lugares cimeiros e de maior destaque no top 10 de IDH muito elevado. A Monarquia assenta numa mentalidade empresarial, a primeira empresa: a família! Menos família --» menos empresa --» menos progresso!

2.º Comentário

Sr. PMO,

Eu li bem o seu texto, tanto que a resposta a isso estava logo no meu 1.º ponto.
Por ausência de tempo, pela hora e outros afazeres, vou ser um pouco mais sucinto:

1.º) Subscrevo e reitero integralmente o que escrevi. O historial que referiu já conhecia e abstenho-me de comentar após 5-10-1910.

2.º) A ditadura salazarista que tanto refere como chave para o caos politico e social da I república, D. Carlos, conforme os termos que havia referido, tentara por via de João Franco, em moldes democráticos e ao abrigo da Carta, responder à mesma matéria...embora à data o caos fosse apenas político. Ou seja, houve um agravamente já em república. Mas o Partido de Afonso Costa acabou com todas as possibilidades de trazer definitivamente o País a bom porto.

3.º) Comparar o “Fontismo” ao “Cavaquismo” e dizer que não foram bons períodos…é algo que discordo em absoluto. O mal veio depois…isso sim! Foram períodos que tentaram privilegiar o progresso económico, mas que foram literalmente mal sucedidos.

4.º) Governar em ditadura é fácil, repito é fácil! Foi o próprio PMO que referiu o período de algum progresso económico na ditadura: “anos 30 até aos anos 50”. Eu diria que se deveu não a Salazar mas sim ao génio de Duarte Pacheco.
Curiosamente é tido e sabido que Salazar queria repor a Monarquia (muitos diziam que era monárquico). Pena foi que cedo percebeu, já com a FRP em Portugal, que a nossa linhagem (Duarte Nuno) não ia em cantigas e não se vergava ao ditador. A Monarquia não era cómoda ao regime, era neutral e democrática. Daí a prevalência da república. Ele punha lá em cima quem queria. E assim foi!

5.º) Dos gráficos que apresentou consigo abrir apenas os 2 primeiros. Mas digo-lhe: quanto à divida pública, e conforme indica o seu gráfico, por volta de 1900 já estava em decréscimo, o corrobora o que afirmei supra; o analfabetismo e a mortalidade infantil eram melhores no tempo da União Nacional? Que dados comparativos tem em relação aos países da Europa no período de 1822 a 1910? E hoje, o analfabetismo não perdura noutras formas? Não serão as “Novas Oportunidades” uma forma de analfabetismo? O que sei é que Portugal, apesar do vasto Império administrativo e das circunstâncias novas mas difíceis que referi (e que você também referiu) anteriormente, tratava-se de um país economicamente médio no cenário Europeu. Hoje está na cauda; Quanto ao PIB potencial, há de facto uma lógica clara: governar em Ditadura é fácil e a China que hoje tem um dos maiores PIB’s potenciais não é uma república e simultaneamente uma ditadura?
É sempre falacioso comparar dados económicos de forma numérica e calculista esquecendo a história e as suas componentes instáveis.

Em suma: Reitero e chamo à colação as minhas anteriores conclusões, acrescentando apenas que: estava a tentar transmitir que uma Monarquia funciona melhor enquanto promotora de um elo comunitário e que as republicas não têm. É mais que uma questão de mera governação, embora esta seja a causa aparente…de facto. Mas há sobretudo uma questão de mentalidade, de uma mentalidade colectiva que perdemos e que nem sequer conhecemos. Não acha curioso que os 3 primeiros países a tombarem perante o FMI sejam repúblicas e que, curiosamente, já foram monarquias?

NOTA: A presente transcrição deste meus comentários, não sofreram qualquer correcção gramatical adicional ou de estilo.
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