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Actualidade do pensamento do Rei D. Pedro V
OLIGARQUIA
“De que valem as medidas, se os grandes figurões são os primeiros que as infringem? Não creiam que eu não vejo o luxo de certas pessoas; não creiam que eu pense que esses luxos caem das núvens; não creiam que eu pense que a maior parte dos objectos de que usam pagaram os direitos legais. Creiam pelo contrário que sei donde lhes vem o luxo; que sei que vivem de contrabando; por que só os pequenos e os pobres hão-de sofrer o rigor das leis, que nãoforam feitas pelos figurões. Esses estão muito acima das ideias de moralidade; são coisas que os abaixam, deitam-nas aos pequenos, que devem gemer enquanto eles riem.”
MORAL
“O espírito utilitário do nosso século abaixa o nível das ideias do homem, e produz a infeudação do espírito à matéria.”
POLÍTICA
“Cumpre que as medidas administrativas de que o país carece possam satisfazer a uma condição essencialíssima, a necessidade de moralizar os serviços públicos, de dar à autoridade a respeitabilidade que lhe falta e sem a qual os administrados vêem no governo o pior dos impostos, imposto que se traduz na perda de tempo, de trabalho, e dos bens de fortuna.”
REALEZA
“Sabemos que os reis são homens como os outros, que eles têm desejos, paixões e defeitos; que eles têm os meios naturais de satisfazer a esses desejos, de ceder ao império dessas paixões, e de seguir a via errónea dos seus defeitos; mas devemos também lembrar-nos que existe para eles uma lei moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é a influência do exemplo.”
OPINIÃO PÚBLICA
“O erro tem sido o tomar por opinião pública os gritos de alguns poucos, e por tendências da nossa época os seus desvarios.”
INSTRUÇÃO
“Um dos fins, e certamente um dos mais importantes, que se devem procurar obter numa organização da instrução pública, é fechar a porta aos imbecis e extirpar os parasitas que não só são pouco económicos mas para ssim dizer embrutecem o Estado.”
“O problema da instrução contém-se quase todo no cuidado da composição do professorado “
Há já alguns meses que publiquei um postal com reflexões de D. Pedro Vtendo o mesmo suscitado o interesse e mesmo entusiasmo de alguns leitores. No seu blogue, prometi ao estimado JM que voltaria a reproduzir mais reflexões do infortunado esposo de D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen. Penitencio-me desta demora perante o fiel leitor boavisteiro e monárquico, com a certeza de que o que se segue não deixará de espantar pela sua actualidade.
Retomando então a obra de Augusto Reis Machado, ‘O Pensamento do Rei D. Pedro V’ (Livraria Avelar Machado, Lisboa, 1941), do capítulo “Pensamento Político e Social” leiamos então o que o jovem soberano tinha a dizer sobre
“GOVERNANTES E GOVERNADOS
Os olhos já vão rompendo a núvem de poeira que se tem levantado diante deles; e o povo algum dia declarar-se-á solenemente contra o escárnio que há 20 anos todos os governos em Portugal dele têm feito. E fatal e tremendo será esse desagravo. Ainda é tempo de remediá-lo, mas não há tempo a perder.
Infelizmente, na nossa terra, conserva-se demasiadamente a lembrança da desordem e dos maus costumes, porque há cinquenta anos que Portugal está sem Governo, verdade que parece um pouco dura, e talvez mesmo que um pouco exagerada, mas que nem por isso deixa de ser uma verdade. Há cinquenta anos que não há autoridade, e que as coisas conservam um resto de ordem que vem do movimento imprimido pelas tradições, que não se podem destruir, e que o acaso, graças a Deus, tem querido prolongar até que as circunstâncias permitam restabelecer as coisas nos seus eixos, e fazer funcionar regularmente o mecanismo constitucional, que por falta de engenheiros, está muitíssimo deteriorado… É preciso um engenheiro hábil, quer ele se chame Rei ou Presidente, Assembleia Nacional ou Governo, porque seja qual for a forma de Governo para ele durar é preciso que governe uma pessoa moral.
Se os governos quiserem hoje ser úteis à sociedade, se eles não quiserem adiantar a época do terrível cataclismo que espera um estado de coisas factício em que o dolo e imoralidade e o ludíbrio do povo ocupa uma parte tão considerável, eles terão que olhar mais pelo povo que padecia em silêncio sem se queixar porque já nem mesmo se sabe queixar.
Para Portugal o mesmo sono forçado dura ainda e as imoralidades dos homens públicos contribuem para o prolongar. Nada há mais fatal que o cepticismo do povo.”
Adenda – na caixa de comentários desse post, diz um comentador:
‘ Mas este rei, a par de D. João II, foi do melhor que Portugal teve’ – palavras para quê?»
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